sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Fui!

É o seguinte, pessoal: hoje tirei a manhã para conhecer mais personagens do TEIA. Conversei com muita gente, mas agora só terei tempo de escrever amanhã. Apesar de ser fim-de-semana, prometo atualizar o blog e aproveitar para descarregar as fotos e contar mais histórias do TEIA.

Agora tenho que correr para o hotel, buscar a mala, ir para Confins e embarcar para São Paulo, onde espero chegar para comer o último brigadeiro de uma festinha de criança. Foi um grande prazer estar nessa cidade, ser recebida pelos mineiros com tanto carinho, participar desse evento bacana, escrever esse blog, conviver com os queridos amigos do Prêmio Cultura Viva, ouvir histórias fantásticas, aprender algo novo a cada esquina e encontrar pessoas de todos os tipos, tamanhos e sabedorias por aqui.

Espero que estejam gostando do blog, mas ainda não acabou não! Até mais!

Histórias de Caicó

O Mestre mamulengueiro do bairro de Felipe Camarão se chamava Chico de Daniel. Isso porque era filho de Daniel e o nome do pai acabava virando um sobrenome. Acabava e ainda acaba em Caicó, no Rio Grande do Norte.

O filho de Chico de Daniel, hoje o mamulengueiro da Conexão Felipe Camarão, se chama Josival de Chico de Daniel. "Além do nome do pai e do avô, o filho herda a arte da família e a responsabilidade de contar essa história. Às vezes os filhos até brigam para saber quem continuará com a arte do pai", conta Lúcia. Josival, no caso, acompanhava o pai Chico na arte mamulengueira desde cedo, por isso herdou o baú dos bonecos.

Ah! Lúcia é filha de Quinca de Bento e, assim, neta de Bento. Mas não chama Lúcia de Quinca de Bento. Seu nome é Lúcia de Fátima Costa.

Educação e cultura no mesmo caminho

Rosângela e Lúcia, do bairro de Felipe Camarão



Sentada uma ao lado da outra, Lúcia e Rosângela vieram ao TEIA para falar sobre os projetos do Ponto de Cultura Conexão Felipe Camarão, do bairro de Felipe Camarão, na zona oeste de Natal, capital do Rio Grande do Norte.

Embora o assunto seja o mesmo para as duas, Lúcia e Rosângela desempenham papéis diferentes na história da Conexão. Lúcia é uma das coordenadoras da ONG e Rosângela é diretora da Escola Municipal Clara Camarão. Mas seus caminhos foram cruzados porque, além de ONG e escola ficarem a quatro quarteirões de distância uma da outra e as crianças serem comuns aos dois espaços, os objetivos de ambas eram e são muito parecidos: oferecer caminhos diversos aos pequenos moradores do bairro. Caminhos que poderão ser trilhados a partir da cultura, da arte e da educação, uma junto com a outra.

"A Conexão Felipe Camarão é um projeto patrocinado pela Petrobrás e pela Lei de Incentivo do Ministério da Cultura e atua na comunidade com ações culturais socioeducativas para crianças, adolescentes e jovens de 4 a 24 anos", explica Lúcia.

Na ONG ocorrem oficinas como a de rabeca, instrumento confeccionado pelos próprios meninos e meninas, que aprendem a tocá-los depois nas aulas de música. Das oficinas, inclusive, foi montada uma orquesta de rabeca que se apresentará amanhã, dia 10, com Jards Macalé. Há também a oficina de flauta pífano; o teatro de bonecos mamulengos João Redondo; a de boi de reis; a de percussão como o coco de zambe, caboclinhos, batuque de índio; e a de capoeira.

Além das oficinas, a ONG participa da Associação Griô Nacional, de um projeto do MEC para realizar ações educativas complementares e é um Ponto de Cultura, onde crianças e jovens aprendem a linguagem audiovisual e produzem vídeos sobre a comunidade.

"Todas as nossas atividades são fundamentadas na cultura de tradição oral e musicalidade oral", conta Lúcia. No bairro de Felipe Camarão, três mestres deixaram seus ensinamentos para as próximas gerações e são eles que são difundidos pela ONG.

O Mestre Manoel Marinheiro era a figura principal das manifestações culturais de Boi de Reis e hoje, já falecido, deixou para a esposa e a filha o legado de serem Griôs. Já o Mestre Chico de Daniel, também já falecido, era o mamulengueiro do bairro e deixou seus bonecos para o filho Josival, que hoje é o oficineiro da Conexão Felipe Camarão. O Mestre Cícero da Rabeca é o único vivo, com 86 anos.

Educação e cultura de mãos dadas

A parceria com a escola Clara Camarão começou em 2004, já na gestão de Rosângela. Nessa época, a escola era aberta nos fins-de-semana para os alunos que não tinham outros espaços de lazer na comunidade. Era o período em que a Conexão aproveitava para fazer suas oficinas dentro da escola.

"Eu abri a escola para a ONG e a comunidade porque achava importante que essas crianças estivessem inseridas em alguma atividade", lembra Rosângela. A parceria deu certo e gera resultados: "Essa criança que participa tanto da escola, quanto da conexão tem uma formação diferenciada de outra que não participa. Com as nossas rodas de conversa e as nossas atividades eles tem o entendimento do que é ser cidadão. Até para questionar se esse é o modelo de ONG ou escola que ele quer", garante Lúcia.

No começo do ano, a Conexão e a Clara Camarão começaram a trabalhar os conteúdos escolares juntas. "Se o menino ou a menina vai aprender a ler e a escrever, porque não pode ser com uma música que faz parte da realidade dele?", questiona Lúcia. Rosângela concorda, mas ainda enfrenta resistência de alguns professores. "Eles ficam ressabiados no começo. Hoje já temos 13 professores trabalhando esses conteúdos."

Essa aproximação do conteúdo escolar com a vivência diária no bairro é importante também para o resgate da cultura e a valorização de Felipe Camarão. "Se as crianças não conhecem o valor simbólico e cultural de sua comunidade, como valorizará aquele ambiente?", pensa Lúcia. "Estamos levantando a arte e a cultura de Felipe Camarão por meio das crianças, dos adolescentes e dos jovens."

Hoje, 400 meninos e meninas do bairro freqüentam as atividades diariamente.

Ufa, achei uma Lan House!

Começo meu dia de hoje aqui no blog (aqui no blog, porque na vida real o dia começou faz tempo) pedindo mil desculpas pela falta de atualização pela manhã. Acordei atrasada (às 8h, gente. Tinha me programado para acordar às 6h, como nos outros dias) e saí correndo enlouquecida para mais um dia do TEIA, o último meu por aqui. Explico: hoje volto para São Paulo, embora o evento tenha mais dois dias. Não poderei ficar o fim-de-semana, mas vou buscar todas as informações possíveis sobre o sábado e o domingo do TEIA para manter vocês informados.

Continuando: tomei um banho correndo (gelado!), engoli o café da manhã e fui para o Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais, ali bem perto da Praça da Estação onde estão ocorrendo os shows dos Pontos de Cultura com artistas consagrados da música popular brasileira. Eu não consegui assistir a nenhum show porque aqui muitas coisas boas ocorrem ao mesmo tempo, mas soube que todos foram ótimos, em especial o Fagner. Mas isso quem me contou foi o povo do Nordeste do Prêmio Cultura Viva que está hospedado no hotel ao lado do meu e eles AMAM o Fagner mais do que gostam de Martinho da Vila, Rapin Hood e Clube da Esquina. Cada região brasileira será representada por um Ponto de Cultura e um cantor, chamado de padrinho.

No Centro Cultural, fui para dar uma olhada nas oficinas do pessoal do Cenpec com o Prêmio Cultura Viva, mas acabei encontrando outros assuntos tão interessantes quanto, como a Conexão Felipe Camarão, que é a postagem a seguir.